ALLA

Autores - Pedro Tamen

Atualizado: 15 de set de 2021

1 de dezembro de 1934 - 29 de julho de 2021

"Poeta português, Pedro Mário Alles Tamen (1 de dezembro de 1934 - 29 de julho de 2021) nasceu em Lisboa.

Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, foi diretor de uma editora (Editora Moraes) e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, e co-dirigiu as revistas Anteu e Flama. Lecionou no ensino secundário, fez crítica literária no semanário Expresso e foi ainda presidente do PEN Clube Português, entre 1987 e 1990.

Traduziu Imitação de Cristo, dos Fioretti de S. Francisco, Cantos de Maldoror, de Breton, e ainda outras obras de autores como Sartre, Foucault, Camilo José Cela, Georges Bataille, Georges Pérec, Flaubert e Gabriel García Márquez. Em 1990 obteve o Grande Prémio da Tradução.

Depois de uma crise religiosa, converteu-se ao catolicismo em 1953, não deixando as obras de estreia, em 1956 e 1958, de refletir uma busca da transcendência, traduzida numa escrita poética fundada na rutura com a causalidade e com a referência, encontrando no esplendor da própria linguagem o efeito lustral da palavra. Para António Ramos Rosa, "a poesia de Pedro Tamen é um incessante exercício de liberdade que corre o risco de se perder na insignificação total e, por outro lado, uma busca permanente de uma frescura inicial (que é a frescura da dimensão do instante recuperado na sua transparência); e, além disso, não obstante a opacidade negativa de muitos dos seus poemas, é também a reinvenção que, no próprio obscurecimento do sentido, instaura uma possibilidade aleatória, que é já uma esperança e uma vitória sobre o drama existencial" (ROSA, António Ramos - Incisões Oblíquas, p. 91).

A sua obra poética, iniciada em 1956 com Poema para Todos os Dias (Ed. Do Autor, Lisboa) encontra-se reunida em Retábulo das Matérias (Gótica, Lisboa, 2001). Em 1999 foi publicado um disco-antologia intitulado Escrita Redita (poemas ditos por Luís Lucas; Ed. Presença / Casa Fernando Pessoa). Em 2006 a Oceanos publicou o seu livro de poesia Analogia e Dedos. A poesia de Pedro Tamen mereceu já as seguintes distinções: Prémio D. Dinis (1981), Prémio da Crítica (1991), Grande Prémio Inapa de Poesia (1991), Prémio Nicola (1997), Prémio da Imprensa e prémio PEN Clube (2000)."

In Wook

Edição da INCM que reúne os poemas de 1956/2013

Não sei, amor, sequer, se te consinto
 
ou se te inventas, brilhas, adormeces
 
nas palavras sem carne em que te minto
 
a verdade intemida em que me esqueces.
 

 
Não sei, amor, se as lavas do vulcão
 
nos lavam, veras, ou se trocam tintas
 
dos olhos ao cabelo ou coração
 
de tudo e de ti mesma. Não que sintas
 

 
outra coisa de mais que nos feneça;
 
mas só não sei, amor, se tu não sabes
 
que sei de certo a malha que nos teça,
 

 
o vento que nos leves ou nos traves,
 
a mão que te nos dê ou te nos peça,
 
o princípio de sol que nos acabes.
 

 
Pedro Tamen, in "Retábulo das matérias - Poesia 1956-2013"

3