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Sobrescrita - Raquel Gonçalves-Maia



“O papel do livro na divulgação da ciência”

Capas de livros de Raquel Gonçalves-Maia


A ponte de primeiro grau entre a Ciência, enquanto investigação, faz-se com o Ensino. Um investigador é, regra geral, um professor, seja ele do ensino básico, secundário ou superior. A comunicação está intrinsecamente ligada à investigação e ao ensino, seja ela oral ou escrita.

A comunicação da investigação científica entre pares é geralmente feita “na terceira pessoa” e o estilo adoptado enfatiza os factos, ao mesmo tempo que “omite” o investigador; o que só passou a acontecer no século XIX.


Não deixa de ser interessante “tentar” ler um artigo científico de Newton ou de Lavoisier...

“A série dos factos que constitui a ciência; as ideias que evocam os factos; as palavras que as exprimem. A palavra deve fazer nascer a ideia; a ideia deve pintar o facto... seria impossível aperfeiçoar a ciência se não se aperfeiçoar a linguagem...” – pode ler-se em “Nomenclatura Química”, de 1787, de Antoine Lavoisier, o “pai” da Química científica.


Mas a descoberta científica é uma actividade humana. E, se o processo de transmissão do conhecimento feito em “passive style”, isto é, sem deixar transparecer opiniões e sentimentos, é muito bem aceite entre pares, o mesmo não se pode dizer quando se pretende atingir um público menos especializado. A supressão do lado humano, “biográfico” por exemplo, prejudica mesmo a compreensão pública do que é a Ciência e do que é um cientista.

A divulgação de descobertas científicas, com correcção de substância e bom uso da palavra (e da gramática...) pode ser a “wonder tale” – suscitar surpresa, fascínio e mesmo admiração.

A transmissão de conhecimento, de qualquer natureza, pode ser feita por via oral e/ou escrita. Numa aula ou numa palestra podemos associar, com reconhecida vantagem, o ver e o ouvir. Mas, terminada a sessão, o que foi retido pelos assistentes? Qual a percentagem residual de memória visual e auditiva?

O nosso intelecto necessita de muito mais do que um olhar em frente e uns ouvidos alertados. O imediatismo dificulta a compreensão – pensar, comparar, relacionar, criticar, avaliar, ... É indispensável que os nossos olhos incidam nas linhas de umas notas adicionais de apoio ou, o que é bem melhor, de um livro bem estruturado que se possa revisitar vezes sem conta.

A interioridade que a leitura de um bom livro transmite, essa sim, é garante da compreensão e da reflexão que um tema científico exige. É esse o papel primordial do livro na divulgação da Ciência.

A divulgação científica não deve ser apenas notícia, deve ser também interpretação das observações e dos progressos da ciência. Neste contexto, o livro surge como um meio privilegiado de preenchimento de lacunas, uma vez que tem, em princípio, uma dimensão organizacional dos conhecimentos. Convém acrescentar que o livro de divulgação científica “ideal” deve saber contar histórias, dramatizá-las, usando, na medida do possível, focos de atracção semelhantes aos utilizados no trabalho tipicamente literário.

Um bom livro de divulgação científica é uma forma de ensino acessível ao cidadão comum. Um cidadão esclarecido compreende fundamentos, critica malefícios e aplaude benefícios – não vai atrás de informação “sem filtro” muitas vezes enganosa.


Raquel Gonçalves-Maia

2021.09.07





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